sábado, 22 de novembro de 2008

Adeus de Poeta



Queria eu te fazer um poema por dia
Fazer-te feliz, mas é impossível querida.
Queria eu que meus anseios fossem só virtudes
Quisera eu que minhas escritas fossem laços que não desatam
Cegos nós falantes
Mas deixe pra lá esta tudo mudado
O que havia em mim está petrificado
Meu amor se foi ontem quando entrou o pecado
Deixe pra lá, me deixe de lado
Não mereço amor nenhum pois o amor que eu amo é comédia
Com fortes indícios a acabar em tragédia
Sem plano de fuga.
E sem nenhuma estratégia
Os bares da cidade estão fechados
Os rios em teus olhos permanecem calados
Afinal quem acredita em poetas?
Mas ao menos, meu amor repentino
Não me seja assim rude
Não esqueça de mim, não mude
De casa ou lugar
Não se torne mais um ser vulgar
Nosso amor passou por hora
Mas como o delírio ainda pode voltar.

L.


Não era belo como a rosa
mas não tinha sequer um espinho
era um corpo de um verde violento
e me falava de seu suor
e de seu tom que ressoava
Sonolento

Era feito de poeira do tempo,
ouvia os velhos sábios,
Mas, nem se quer era real
porém sóbrio, pálido
era puro como toda água
que por ser água é mineral

E também era inspiração
e em minha boca
Virara verso, trova, ou composição.
Tinha dentro de si um outro eu contido
e mais mil almas que o rondavam
e o deixava perdido

E eu o vi em sépia
E antes monocromático
só podia saber que se encontrava
sentado estático
a se ler em escritas mambembes
de alguém que o guarda em memória.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fez se então a chuva e a vontade de ficar
pela ingênua voz cortante da lua
calei-me e sentei
E minha saliva fez molhar o pão
e a porta a fechar o vão

Fez se a febre nos lençóis
a febre que mata dois a sos
que destila o sangue no grito da epiderme
e a chuva persiste e chama o trovão
e a lua se apaga só nos resta o clarão

Fez se o sono em nossos corpos
o os sonhos na cabeça a visitar
o cobertor se fez menor
embaixo do travesseiro a contradição
em cima da cama a benção

quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Não sei se foi verde,

Ou foi verdade

Mas algo vi no teu olho

Pecado ou piedade,

O que eu tive na tua mão

Nossas carnes expostas

Exaustas na chuva

Mas fora vertigem

E também veneno

E não fomos sóbrios

Nem nobres

Mas tampouco impróprios

E porque haveríamos de ser?

Já ousamos viver

Sobre a sobriedade

E nos esganamos

E nos enganamos

Também

Nos corrompemos

E embeberíamos os primeiros goles

Que macios passos

Descem pela garganta até nosso eu.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Conto_ Por fora da vida


Ela deitou primeiro, seus longos cabelos por sobre as pernas dele, depois resvalou as mãos por debaixo dos cabelos fazendo com que seu pescoço ficasse nu sobre o tecido de suas calças, já com a cabeça acostada nas pernas dele ela torce levemente seus cabelos fazendo escorrer um pouco de água pelas pontas de seus dedos. As mãos dele se encontravam extremamente inquietas, como se acompanhadas de uma forte vibração que sentia em sua caixa toràxica por sua respiração ofegante, suas costas encostadas no tronco de uma velha arvore de sombra espessa davam a ele a sensação de ser balançado com folha seguindo a sua própria respiração. Os olhos dela expostos aos primeiro raios de sol da manhã pareciam maiores do que na noite anterior, suas pupilas eram tão pequenas como algumas das pintas que ela trazia no rosto. Seus corpos estavam tão sujos como os de quem saíra de um campo de batalha. Pernas enlameadas, pés desprovidos de sapatos, chinelos, ou meias, roupas umedecidas por suor e chuva. Ele olha pra ela e entreabre a boca deixando por fim seus dentes deslizarem pelos lábios inferiores, e soltando um leve suspiro.

-Shhhhiiih! Preste a atenção!-exclamou ela erguendo levemente seu dedo em direção a boca dele - Não digas nada! Nem o faça, não podemos perder esse pequeno momento - Em seguida fechou seus olhos e lhe segurou a mão. Ele por sua vez acatou o que ela havia dito, permaneceu em silêncio, dando espaço ao único som ouvido por ali, o canto dos bem-te-vis.

Passados alguns instantes ela poe-se sentada e furtivamente o beija de forma um tanto desesperada, sentindo cada segundo passando correndo por suas veias.

-Vais mesmo voltar? – pergunta-lhe ela com ar de sofreguidão.

Ela balança a cabeça pra cima e pra baixo uma única vez, sem coragem de abrir a boca para dar vida verbal á sentença que ele já havia decidido.

-Me amas? -Novamente o questiona inconformada.
-Talvez nem Deus possa amar na mesma medida que eu a amo!-responde ele com os olhos fincados em sua face.

-Se verdade fosse não voltaria!

-Um homem que mata seu pai de desgosto e sua mãe de vergonha, não é digno de mais nada além da prisão.

A grama verde tornasse uma pintura em aquarela dentro dos olhos dela tremendo e escorrendo junto as suas lágrimas caladas.

-Porque não podemos ficar todos juntos aqui - diz ela agarrando forte a mão fria dele contra seu seio esquerdo.

-Tenho que voltar, mas nos veremos de novo se você ainda estiver aqui.

-Não sei quanto tempo poderei ficar embaixo dessa arvore, mas ficarei o maior tempo possível a tua espera.

- Não se sacrifique, mas ouça. Caso volte, antes de mim, que seja como um homem, assim será mais madura. E então eu farei o contrário.

- Fique e não voltaremos nunca, viveremos aqui por toda eternidade. Sem riscos de nos perdermos ou coisa assim.

-Preciso mesmo voltar, e cumprir minha sentença.

-Vais voltar pra sentir dor.Chorar, sofrer, tudo como na primeira chegada.

-É passageiro.Não maldiga, tanto assim, o cenário de nosso primeiro encontro.

-Vou estar aqui solitária a sua espera todo esse tempo que Deus sabe o quanto será.

-Acalme-se, amor, o tempo passa mais rápido para ti do que para mim lá dentro, ademais já pedi para que ficasse com um pedaço de minha alma aqui contigo.

Os olhos dela brilharam aceitando o ultimo consolo para sua tristeza, e ela agarrou com suas mãos - que se encontravam, agora, limpas assim como seus pés e suas roupas agora brancas – um pano branco de algodão que continha ali o seu pedaço, e então segurou entre o ventre e os braços deixando assim ele sair da sua vista. Restando apenas ela, o pedaço, a grama e a arvore em meio ao nada.

Já fora dali ele abre os olhos é lá esta o corpo dela em seus braços, com suas roupas e pernas com lama, seus cabelos úmidos, ele retirou o corpo dela de cima do dele, passando a mão tremula e suja de sangue pelo rosto da moça.

Alguma voz anuncia a uma dezena de pessoas que se encontravam ao redor.

-Deus do céu ele está vivo!

Ele baixa a cabeça olhando novamente para o corpo morto de sua amada, e pensando que teria de se levantar e seguir ali dentro por algum tempo, pensa sobre a exclamação do estranho e responde pra si. “ Se deus quiser por pouco tempo”.

Três crianças

Três crianças soluçaram,

Ao triste som da meia noite

Na companhia da solidão

Três crianças esquecidas,

Soterradas dentro de mim

Uma delas a teimosia

Com olhos rebeldes

Trazia em um deles a maldição

Um menino chamado sorriso

Que era tão solto, estava doente.

Atrás desses dois a mais pequenina

Chama-se ela alegria

Trazia encravada, entre unhas e dedos o seu coração

Com olhos caídos

Fincados na terra, queria saber quem era ela.

A mais velha, a Teimosia

Perguntou-me tão ríspida

Se esse mundo era são

E me disse que ia partir

Enlaçando num abraço seus dois irmãos

Corram, corram crianças

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Juliana

Ai das flores que não podem te beijar
e dos peixes que não podem tê-la fora do mar
ai de mim que já não posso mais te amar
e da menina que te sorriu no jantar
ai de quem te virou a cara duas vezes
e da espera lenta de meses
ai de mim que não mais queres
e das facas, garfos e colheres
que jogaste no chão
Ai do teu perfeito gesto, já não brilha mais pra mim
e toda alegria que já chegará ao fim
ai do cupido e do querubim.
E de tua pele alva vestida de carmim
Ai de tua boca que já não mais me fala
e de tua impertinência que me cala
ai da porta que segura a mala
e do carro que vai de mim levá-la.

O mesmo

Na sala a macia voz do tele jornal
sob minha mão, a pele branca que grita por ti
na mesa os rascunhos
cartas que escrevi a punho
e nunca enviei
No céu o mesmo azul
em mim a mesma saudade
nas casas o mesmo café
e aqui o desentoar.
No ar tem algo de ti
no mar tem minhas conchas
tens meus olhos malditos
a te vigiar
temos terra estática
para girar
também lutas democráticas
para guerrilhar
tem o livro na cama
que conta nossa historia
tem um teatro em chamas no tele jornal
a nossa história não é assim,
tão banal.
Escreva poemas pra mim no natal
o meu violão permanece mudo
e lá na cozinha a torneira a pingar
tem um baterista caído na escada
atrás da sacada
uma namorada
e os carros correm sem ter nem porque
e as nuvens passam sem se perceber
e o dia acabou

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Camaçari II


Essa evolução destrutiva,
eu nem me convidei pra participar
esse teu cimento que devora meu chão
não passa de algo que alguém disse ser bonito
Esse teu céu coberto de cinza
Admiro a fumaça tomando a cachaça
na mesa do bar
Encho os olhos e estufo o peito:
-Eu trabalho lá!
Minhas filhas têm asma
e eu preciso de dinheiro, dinheiro pra pagar
Ou a cidade vai a elas matar
São remédios, tênis, casacos
e elas estão sempre a reclamar
E eu trabalho lá.
Ali adiante passava um rio
hoje nem peixe tem lá
E as meninas, deus me livre!
nem sabem o que há
Veio gente de fora
trouxeram coisas de outro lugar
Também fazem fumaça a noite
catam latas e batem pá
Tem manhãs que as pobres já nem podem respirar
fecho as janelas e abraço elas
-Vai passar, vai passar.
Não sei o que digo a elas
Porque se a fumaça para...ai sim vai piorar



Lazy Dany

Por assim dizer


Minha imaginação
dissipasse no vão
Se dissolve no clarão
E porque não?!
Renasce meio a escuridão
Se recicla a cada pão
Onde tende a envelhecer
onde sei, vai se perder
Sou o verde na copa
e o caqui no chão
Tenho um mundo em mim
Meu mundo mudo contado pela mão


Lazy Dany

quarta-feira, 16 de julho de 2008

M.


Quantas mentiras eu te disse
pois minha verdade não te cabia
Quantas verdades descabidas
da tua boca saiam...sim eram verdades
e eu sofria
Quando o teu não era o meu sim
meu sim tu não concebia
Quando a noite me acalmava
eu me deitava sobre teu esforço e esquecia
Trocamos palavras feito navalhas
e baldes de água fria
Trocamos beijos, abraços,
presentes,
e isso nada revertia
Serpentes saiam da minha boca
mas eram de teus olhos que a lágrima escorria
Hoje só o sussurro do tempo que mostra
o que minha idade escondia.


Lazy Dany




terça-feira, 15 de julho de 2008

Camaçari


Cidade de cinza colorido,
de povo alegre e sem sentido
De pernas tortas e belas vizinhas,
ruas mortas e pequenas igrejinhas
De ti brotam bocas de dragões
gente suor e rojões
Trilhos de trem
que não sei se vem ou vão
Cinza, tosco clarão
Nos dias de chuva sinto
teu bafo quente e fedido
Não era aqui que eu tinha nascido
Pobre de ti Camaçari
Pobre de ti


Lazy Dany

Não se atreva!!!


Não se atreva a me tocar,
Não sou veludo ou cetim pra sua mão acariciar
Não se atreva a me despir,
Não sou uma fruta ou um prato pra você me digerir
Não se atreva a me tocar,
Não choro mais a sua falta e nem vou mais voltar
Não se atreva a me querer,
Não sou vinho nem água pra você me beber
Não se atreva a me tocar,
Não sou tango nem valsa pra você me dançar
Não se atreva a me sentir
Não sou ferro frio nem lava quente pra você se aderir
Não se atreva a me tocar,
Não sou nenhuma musica pra você vir dedilhar

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Dia

Hoje eu sei o dia embranqueceu cinza,
pois a prata da noite já fora quebrada
Eu que já bem sei, a claridade do dia me cega
Portanto nada do que falar hoje vai me fazer ver além de um dia forte demais pra eu abrir meus olhos
Ao meio dia o sol não irá raiar como sempre, sei que hoje...hoje será diferente
e os meninos na calçada hoje não os chamarei para almoçar
A tarde hoje não puderas ser rosa, pois eu ia me por a despetalar com as mãos
Nem ao menos o sol hoje se vai ao fim da tarde sem que antes ouça meus dilemas
sem que antes eu o beije de olhos bem fechados
A noite chegará negra, tão negra que só então abrirei meus olhos
pois sua escuridão é meu farol e nada do que me digas me fará pensar
que a escuridão é algum mal.