quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Inda_ Gancia




Corpulento molusco
Ofuscado de bronze
Semi nu arco-íris
Desfeito em temporal
Rosa vermelha baleada
Por espumas de um réquiem
Sonata de poucos acordes
É essa tua depressão morta por um sorriso indolor
É essa tua lagrima engolida por uma palavra infame
Teu pesar sovado com um leve deboche
Pupila dilatada de tesão recolhido
Tensão recolhida fabricando veia dilatada
Deitado recosto num ombro leviano
Queda infinita de um descalço pé no infinito
Quebra descalça num infinito cristal
Recostado levianamente num corpo absoluto
Soluço desentoado por um gota vermelha de suor
Sorriso absorvido por um salgado e incolor sangramento
É esse teu absorto lamento
É esse teu cansado reclame
Sem mais nem porque.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Calcanhar de Aquiles

Se chamava Lucas, Rafael...
Não sabia ao certo teu nome.
Talvez fosse até ontem sem nome em minha memória
Talvez fosse Henrique teu nome. E eu andei te escrevendo
Incessante, árdua e afetuosamente...
E andei derramando lagrimas sobre tuas linhas
E achando graça de teu caminhar

Moravas no Chile, na Áustria,
Esses tempos esteve em New York
Esteve na África comigo
Nas mais turvas choupanas
Ajudando famintos, miseráveis, ensinando pequenos a ler teus gestos
Esteve comigo na praia, em alguma deserta duna
Mas logo ia-te, e me deixava sozinha de novo

Te apegava ao violão, á televisão
Te apegava á minhas mãos, e andava comigo
Mas nunca soube quem eras...onde ias, o que queria de mim
Esteve comigo na dor e na sorte ...mas nunca me tocou
Nunca onde outros não podiam...
E um dia, vi teu nome, teu endereço, tuas pegadas...vi em teu gosto meu gosto
E senti tocar meu imaculado calcanhar de Aquiles...eras tu, Anjo, tinhas um nome, era amor.

Sacrifício

Vamos ao nosso sacrifício, amor
Matar o resto de saudade que já nem vale tanto a pena
Eu errei todas as vezes em que te feri com meu sorriso
Eu errei todas as vezes que pensei que podia te amar
E meu sacrifício maior foi teu choro
Minha sentença era te perder
Eu sempre soube disso
Perdi-te pro tempo
Para teus livros
Para tua nostalgia
Perdi-te pra uma cidade
Para uma vontade
Para o mundo inteiro
Vamos ao nosso sacrifício, amor
Amo-te ainda, sendo que não mais te amo
Por tanto te amar, prefiro não mais amar
Não pode ser rosa aquilo que é azul
Nem tão pouco pode ser meu sorriso o teu
Desculpe amar-te tão de leve, tão leviano
Desculpe querer-te tão pequeno, tão insano
Não quis, amor, que fosses quem fui
Não quis, amor, que risses como ri
E quis mais que tudo que fosses
Algo que eu não soubesse
Quis mais que tudo que fosses
Algo que não existisse.

sábado, 14 de novembro de 2009

Hino de Minha Alma

Hino de minha alma, são tuas palavras que resvalam macias
Crespas, e famintas de olhares, quando ousas falar.
Mudo és a margem de um rio, onde meu barco fez bagunça
És uma celeste súcia de minhas vontades caladas

Hino de minha alma, minha marcha é a dança de tuas mãos
E teu sorriso é minha bandeira, que adoro hastear
Teu corpo é o território pelo qual luto
Território que desbravo dia-a-dia com as mãos que me foram dadas.

Hino de minha alma, te canto em arcano para não te povoar.
Para que tu minha republica não te tornes um vilarejo
Onde barcos viageiros acabem por aterrar
Pois não quero outras mãos cultivando a terra que é minha.

Hino de minha alma, procurei outras pátrias
Mas foi em teu leito que repousei pacífico e estremecido
Em tuas planícies indígenas que eu me descobri
E parei de navegar quando construí em tuas janelas meu atestado de saudade.

D.Czarnecki

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Looking at the devil


Eu vi o diabo de cara
Eu vi o diabo de quatro
De patas nuas, latas e ruas
De cinco corteses rapazes
Lugares e ares de agosto
Capuzes negros e loros
E ouros e calos maciços
Parreiras e lares movediços
Sem uvas sem vinhos sem sangue
Sofás, nem o cheiro do instante
Um olho se fecha outro abre
Se instala a cigana na morada da vergonha
A aranha na pousada da medonha
Vertigem de subir degraus
Eu vi o diabo bancar uma vida
Que nem ele mesmo podia agüentar
O pobre diabo de rabo arrastando
Teve-me no couro enquanto sorria
E vezes fingia, aflita, que era feliz
E vezes me ria, altiva, do mal que me fiz

sexta-feira, 29 de maio de 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pio Bello Sorriso


Um pio bello sorriso gasoso
Queimado como gasolina
Como chama consumida
Leve neblina
Um pio bello sorriso de morfina
Adormecido sorriso
Indolor
Sem sentido sorriso inexistente
Passaro pousado na serpente
De tuas entranhas maledicentes
Um pio bello sorriso cascata
Aberto, largo
Sorriso que ninguém vê
Que não é.
Sorriso solado
Desembarcado
Um pio bello sorriso de lata
Sorriso que a dona mata
Rasgado, regrado
Pregado
Do começo do dia ao anoitecer

sexta-feira, 20 de março de 2009

Eles

Ela o chama: -Vem pra cama!
Ele aceita, é ela a eleita
Ela na chama, e ele a espreita
Ele arruma o travesseiro, e ela se ajeita

Bate a cinza no cinzeiro
Ela não está satisfeita
Ele tem sono e ela a dormir se rejeita
Ela se vira de costas, ele não percebe sua cara mal feita

Bate o sol na janela é o dia que nasce
Ele se acorda, ela sorri e se deleita
Ele sonolento, ela o peita
É hora de ir trabalhar, a ceia está desfeita

Ele bate o portão ao sair, ela puxa o lençol a cobrir
Mas os gritos do corpo dele, a mente dela desajeita
Ela procura outra cama e nela se deita
Ela também não é perfeita

quarta-feira, 18 de março de 2009

Quem sou eu

O artista de fome
O poeta sem nome
A voz desclassificada
A porta
A fachada
O incerto e o temor
Na boca sou o amargo sabor
O teu beijo roubo sem amor
Minhas saias tiro sem pudor
Nao sou cristo
Nao sou redentor
Sou o perdido
O breve
O manso desconcerto leve
Permaneço porém nao estou
Sou o maçarico a queimar palavras
de um velho mundo em seu ouvido
Sou aquele que a noite se sente
Acuado
Banido

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

UM AMOR


Eu busco um amor
Um amor qualquer,
Porque quero do amor apenas uma colher
Não quero baldes,
Nem caminhões.
Quero um só pouco do doce, pra não enjoar nos aviões.
Eu quero um amor
Um amor sem idade,
Que tenha vinte ou quarenta anos
Que faça teatro, musica
Ou simplesmente planos.
Eu quero um amor que me ame calado
Um amor que me fale baixinho
E vezes grite de loucura
Um amor bem pequenininho
Que dure um instante
Um amor gigantesco
Que me faça gritar em alto-falante
Eu quero um amor que não queira ser dono
Um amor de mansinho
Que prefira sentar no chão que num trono
Um amor que me prive sem querer
De meus vícios de meu mal dizer
Um amor pra eu acordar um dia e viver