quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Juliana

Ai das flores que não podem te beijar
e dos peixes que não podem tê-la fora do mar
ai de mim que já não posso mais te amar
e da menina que te sorriu no jantar
ai de quem te virou a cara duas vezes
e da espera lenta de meses
ai de mim que não mais queres
e das facas, garfos e colheres
que jogaste no chão
Ai do teu perfeito gesto, já não brilha mais pra mim
e toda alegria que já chegará ao fim
ai do cupido e do querubim.
E de tua pele alva vestida de carmim
Ai de tua boca que já não mais me fala
e de tua impertinência que me cala
ai da porta que segura a mala
e do carro que vai de mim levá-la.

O mesmo

Na sala a macia voz do tele jornal
sob minha mão, a pele branca que grita por ti
na mesa os rascunhos
cartas que escrevi a punho
e nunca enviei
No céu o mesmo azul
em mim a mesma saudade
nas casas o mesmo café
e aqui o desentoar.
No ar tem algo de ti
no mar tem minhas conchas
tens meus olhos malditos
a te vigiar
temos terra estática
para girar
também lutas democráticas
para guerrilhar
tem o livro na cama
que conta nossa historia
tem um teatro em chamas no tele jornal
a nossa história não é assim,
tão banal.
Escreva poemas pra mim no natal
o meu violão permanece mudo
e lá na cozinha a torneira a pingar
tem um baterista caído na escada
atrás da sacada
uma namorada
e os carros correm sem ter nem porque
e as nuvens passam sem se perceber
e o dia acabou