quinta-feira, 17 de julho de 2008

Camaçari II


Essa evolução destrutiva,
eu nem me convidei pra participar
esse teu cimento que devora meu chão
não passa de algo que alguém disse ser bonito
Esse teu céu coberto de cinza
Admiro a fumaça tomando a cachaça
na mesa do bar
Encho os olhos e estufo o peito:
-Eu trabalho lá!
Minhas filhas têm asma
e eu preciso de dinheiro, dinheiro pra pagar
Ou a cidade vai a elas matar
São remédios, tênis, casacos
e elas estão sempre a reclamar
E eu trabalho lá.
Ali adiante passava um rio
hoje nem peixe tem lá
E as meninas, deus me livre!
nem sabem o que há
Veio gente de fora
trouxeram coisas de outro lugar
Também fazem fumaça a noite
catam latas e batem pá
Tem manhãs que as pobres já nem podem respirar
fecho as janelas e abraço elas
-Vai passar, vai passar.
Não sei o que digo a elas
Porque se a fumaça para...ai sim vai piorar



Lazy Dany

Por assim dizer


Minha imaginação
dissipasse no vão
Se dissolve no clarão
E porque não?!
Renasce meio a escuridão
Se recicla a cada pão
Onde tende a envelhecer
onde sei, vai se perder
Sou o verde na copa
e o caqui no chão
Tenho um mundo em mim
Meu mundo mudo contado pela mão


Lazy Dany

quarta-feira, 16 de julho de 2008

M.


Quantas mentiras eu te disse
pois minha verdade não te cabia
Quantas verdades descabidas
da tua boca saiam...sim eram verdades
e eu sofria
Quando o teu não era o meu sim
meu sim tu não concebia
Quando a noite me acalmava
eu me deitava sobre teu esforço e esquecia
Trocamos palavras feito navalhas
e baldes de água fria
Trocamos beijos, abraços,
presentes,
e isso nada revertia
Serpentes saiam da minha boca
mas eram de teus olhos que a lágrima escorria
Hoje só o sussurro do tempo que mostra
o que minha idade escondia.


Lazy Dany




terça-feira, 15 de julho de 2008

Camaçari


Cidade de cinza colorido,
de povo alegre e sem sentido
De pernas tortas e belas vizinhas,
ruas mortas e pequenas igrejinhas
De ti brotam bocas de dragões
gente suor e rojões
Trilhos de trem
que não sei se vem ou vão
Cinza, tosco clarão
Nos dias de chuva sinto
teu bafo quente e fedido
Não era aqui que eu tinha nascido
Pobre de ti Camaçari
Pobre de ti


Lazy Dany

Não se atreva!!!


Não se atreva a me tocar,
Não sou veludo ou cetim pra sua mão acariciar
Não se atreva a me despir,
Não sou uma fruta ou um prato pra você me digerir
Não se atreva a me tocar,
Não choro mais a sua falta e nem vou mais voltar
Não se atreva a me querer,
Não sou vinho nem água pra você me beber
Não se atreva a me tocar,
Não sou tango nem valsa pra você me dançar
Não se atreva a me sentir
Não sou ferro frio nem lava quente pra você se aderir
Não se atreva a me tocar,
Não sou nenhuma musica pra você vir dedilhar

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Dia

Hoje eu sei o dia embranqueceu cinza,
pois a prata da noite já fora quebrada
Eu que já bem sei, a claridade do dia me cega
Portanto nada do que falar hoje vai me fazer ver além de um dia forte demais pra eu abrir meus olhos
Ao meio dia o sol não irá raiar como sempre, sei que hoje...hoje será diferente
e os meninos na calçada hoje não os chamarei para almoçar
A tarde hoje não puderas ser rosa, pois eu ia me por a despetalar com as mãos
Nem ao menos o sol hoje se vai ao fim da tarde sem que antes ouça meus dilemas
sem que antes eu o beije de olhos bem fechados
A noite chegará negra, tão negra que só então abrirei meus olhos
pois sua escuridão é meu farol e nada do que me digas me fará pensar
que a escuridão é algum mal.